domingo, 28 de setembro de 2014

Transporte de animais no metrô: um direito NEGADO ao cidadão de São Paulo. Até quando?



Há anos eu venho batendo nessa mesma tecla. E é com ela que este blog volta após um longo período de inatividade forçada (e quase desativação definitiva), faltando exatos 7 dias para eleições.

Lembrando que em outras cidades do mundo (como Nova York, Tóquio, Istambul, com metrôs tão lotados quanto o de São Paulo) ou mesmo do Brasil (Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, etc.) esse é um direito garantido aos cidadãos, desde que cumpridas as regras legais do transporte de animais em trens, ônibus e metrô. (A imagem acima é do metrô de Paris, França).

Só aqui—São Paulo—e em Brasília é que existem regras proibindo totalmente animais no transporte público. Segue o que eu postei no Facebook, e espero que minha queixa traga alguma providência sobre o assunto: reflexão só não basta mais.
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Insistindo: e ainda mais que é época de eleições (antes tarde do que nunca caríssimos. Melhor ainda que seja tarde: para mostrar nessas eleições QUEM É QUEM DE VERDADE).

Algum candidato a qualquer coisa quer se manifestar e tomar alguma providência quanto a isso? A nos deixar embarcar com nossos bichos em trens e metrô?
Ou a realidade é que transporte público NÃO É ACESSÍVEL PARA TODOS? Que QUEM TEM ANIMAIS EM SÃO PAULO ESTÁ EXCLUÍDO DO DIREITO AO TRANSPORTE PÚBLICO?

Se eu tiver algum problema com meus animais, e eles precisarem de veterinário, tenho que forçosamente usar carro: o metrô de São Paulo proíbe que eu leve animais, já me expulsou de lá e segue expulsando gente que tenta levar animais. Ônibus muitas vezes também não aceita animais.

O que eu faço, na São Paulo "sustentável" dos srs. políticos, onde ter carro é mal-visto e investe-se em ciclofaixas, investe-se em corredor de ônibus (nada contra, realmente, tudo isso parece ótimo), mas não nos deixam embarcar com nossos animais num metrô ou trem da CPTM?

Levo eles COMO? Carrego caixas com gatos e cachorros numa bicicleta? (detalhe: além de tudo, sou considerada deficiente física de baixo grau, não posso pedalar uma bicicleta).

Para ele, para mim, para você, para todos que tem animal: 'bora puxar a carroça.
Já que no metrô não pode entrar com os bichos, porqueee...isso ninguém explica.
Ah, posso por uma carroça puxada por mim mesma na ciclofaixa, com as caixas dos bichos em cima. E ir a pé até o veterinário de especialidades, que fica a modestos 40 quilômetros daqui. Ou, mais charmoso: arranjo não uma carroça para puxar, mas um riquixá chinês, com lanternas vermelhas penduradas! Se algum ciclista reclamar, peço a ele para me ajudar a puxar o riquixá também! Por 40 quilômetros!

Fantástico!

Enquanto isso, tem dois projetos de lei tramitando desde meados de 2012, 2013 na Câmara dos Vereadores, visando a regulamentação do transporte de animais em ônibus, trens e metrô. Nenhum foi votado até onde eu saiba. Nenhum outro foi proposto aparentemente, nem na esfera municipal, e nem na estadual (que seria mais importante, já que CPTM e Metrô são mais ligados ao Governo do Estado de São Paulo do que à Prefeitura).

O que vejo é que os políticos NÃO QUEREM NOS OUVIR, NEM NOS ATENDER.

Para eles NÃO SOMOS CIDADÃOS.

"Ah, que julgamento maldoso!", dirão alguns. "Pois a Prefeitura não fez lindos Hospitais Veterinários Públicos para a população mais carente?"
Só uma pergunta: DE QUE VALE TER ESSES HOSPITAIS SE É IMPOSSÍVEL CHEGAR NELES?

Eu ainda tenho carro. AINDA, porque a cada dia é mais difícil transitar na cidade, e minha saúde não aguenta muito mais.

Mas e quem é carente? Quem não tem carro? Quem usa transporte público? Quem não tem dinheiro para pagar veterinário particular e precisaria do Hospital Veterinário Público? Esse deixa o seu bicho morrer se estiver doente? Ou não vai castrar seu cachorro ou gato, deixando a bicharada parir uma ninhada atrás da outra infinitamente?

Tem o Hospital Veterinário Público, até mais de um. Mas pagar um TÁXI até lá (que táxi é o único meio mais garantido de levar um animal hoje em dia) num valor que pode superar R$ 170, pra quem vive de salário mínimo e Bolsa-Família, não tem como!

Sem Metrô acessível não há como tratar vários dos animais de regiões mais carentes.
Vão se reproduzir, contrair doenças, disseminar doenças, morrer sem socorro.
Governantes e legisladores: a culpa disso tudo é de vocês
Imaginem como se sente qualquer morador da comunidade de Heliópolis que tenha animais, os alimente, queira cuidar deles bem, apesar dos poucos recursos, com duas estações de metrô bem embaixo do nariz (Sacomã e Tamanduateí), sabendo que tem Hospitais Veterinários Públicos em bairros onde tem metrô (Tatuapé e Parada Inglesa) e...impedido de embarcar por causa de regulamento do metrô (de 1976, mais antigo que todas essas estações)?

Sem R$ 170 ou mais sobrando para o táxi, como fica?

Ah, ele larga o trabalho (não vai dar para ir trabalhar, vai faltar tempo), bota os animais numa carroça (ou riquixá, mais bonitinho, né?) e vai pelos tantos quilômetros de ciclofaixa até chegar no Hospital Veterinário...algum dia. Certo?

Que se ele não fizer isso é um irresponsável! A lei afinal determina que o humano que responda por um animal lhe garanta atendimento veterinário! Se não fizer isso, comete crime de maus-tratos!

Regras são regras, afinal. Pois é. No metrô e fora dele.

É como se os políticos e administradores do metrô e da CPTM nos dissessem na cara: "Ah, a solução para esse problema de animais proibidos no metrô e trens é proibir gente pobre de ter animais. Afinal, não tem carro, não vai ter condições para cuidar deles! Que cachorro, gato, passarinho, coelho sejam um privilégio de elites com carro, piscina, iPhone que dobra no bolso e que viaja para a Disney nas férias e que esses lindos animais não fiquem nas mãos dessa 'gentalha' que mal tem para se manter".

Isso é uma vergonha. Um perfeito horror. Ou a perfeita definição de EXCLUSÃO SOCIAL.

Queria saber dessa gente que quer se eleger, com tanta plataforma para tanta coisa se alguém vai ao menos DIZER algo. Nos dar alguma satisfação. Ou se vão se esconder como o bando de covardes que parecem ser (e que demonstraram ser até agora) e não vão falar nada, não vão votar nada, não vão fazer nada? Como o que aliás é o que tem acontecido há anos.

Estamos esperando. E até lá, até algo ser FEITO, que esqueçam de ter nossos votos, para qualquer cargo, para essas e outras eleições. Obrigada.

sábado, 18 de maio de 2013

Querida Gameloft (ou melhor...CARA Gameloft...Muito, muito CARA...)



Querida Gameloft:

Hoje eu aprendi, fazendo as contas na ponta do lápis sobre seu game de Android (e iOS) "My Little Pony-Friendship is Magic" que o que um jogo custa e o que ele oferece pode ser bem diferente. E, sim estou falando de um jogo oferecido de graça por você.

Mas, não, não me entenda mal. Não trace paralelos com games que em outras eras custavam mais de dolorosos R$ 100 e hoje custam bem menos: como são os da Square-Enix. Final Fantasies podem ser caros para os padrões do Android e seu Google Play...mas me agradou sobremaneira pagar apenas R$ 35 em média por cada um: afinal paguei uma vez só. 

No entanto, seu game de  “My Little Pony” segue um caminho diferente: é de graça para baixar e exige apenas um investimentozinho ao longo do jogo...exige, sim: é impossível terminá-lo sem por um tanto de dinheiro do mundo real para comprar as tais graciosas joias: que são uma das moedas correntes usadas no jogo, moeda essa indispensável para se adquirir novos personagens e edificações. O que, para algumas pessoas gera um certo desconforto: "Dizem que é de graça e agora tenho que pagar??"

Sim, entendo a sua razão para tais medidas: sei que a indústria de games não está aqui para fazer caridade e sim negócios, e que é necessário fazer algo para estimular o público a pagar alguma soma por um game que já é oferecido de modo acessível a todos, gratuitamente (e consideremos: uma soma que teoricamente seria voluntária, na quantidade que se quisesse e na hora em que se quisesse. Há pacotes de joias que vão da ninharia de R$3—por 20 joias—até R$ 200—por 1500 joias, disponíveis nas 24 horas do dia).

O que me deixou deveras perplexa, no entanto, é que esse jogo tem uma série de itens obrigatórios que custam essas joias. Vários itens. Muitos itens. Muitos, muitos itens. Que custam muitas joias. Isso num jogo gratuito, e talvez em respeito a sua gratuidade, bastante humilde, que não exigiu grande esforço em criação de códigos e design geral : sei porque entendo um tantinho de programação e design de games, e sei que o jogo não consumiu muito, especialmente por já existirem ene outros parecidos no mercado—muitos lançados pela própria Gameloft, aliás. 

Sim, compreendo e endosso a máxima de que o justo é pagar pelo game, afinal existem desenvolvedores, programadores, engenheiros de níveis, artistas gráficos, marqueteiros, publicitários, designers, secretárias servindo cafezinho (além de dragões bebês famintos) envolvidos. E agradeço à generosidade: reconheço que o game oferece algumas bem-vindas joias de graça por dia: em média 3, num dia de muita sorte até umas 5, 6 (depende de eventos aleatórios, como acharmos a polêmica Derpy e sua caixa num bom momento ou parasprites/changelings explodindo de tão magnânimos—o que é tão incomum quanto se achar uma nota de R$ 100 perdida na rua). Ou, claro, dá para ir baixando as promoções associadas—cada uma dá uma joia em média para cada app instalado e rodado: nessas instalei em meu tablet um economizador de bateria, dois programas de pôquer, um de roleta, um de caça-níqueis, quatro apps que não sei sequer para que servem (já que tem crashes após a abertura mesmo num tablet com Tegra 3), um app para fazer check-in—coisa que abomino e considero invasiva de minha privacidade—e um app de promoções de lojas de fora de meu país, que não me serve de nada. Todo esse esforço me rendeu 11 joias, lentidão e muito menos espaço na minha memória.

(Lembrando que essas promoções não passam de umas 20 a 30, seja lá como for, raramente aparecem novas. Mas isso é só um detalhe, afinal como bem cabe a um jogo de pôneis, reza o ditado que em cavalo dado não se olha os dentes) . 

Bom, mas essas 3 joias (em média) por dia, ainda que fruto de sua bondosa e extrema condescendência, ó minha cara Gameloft, num jogo que EXIGE (sim,  sem certos personagens e edifícios que custam joias  não se avança) MAIS DE 3000 JOIAS PARA SER CONCLUÍDO...podemos dizer que realmente ajudam em algo?

E quando digo 3000, é 3000 ou normalmente bem mais, num jogo onde não existem os botões de “tem certeza” antes de se fazer compras com joias: em outras palavras, erre o dedo e você gasta umas 50 de uma vez sem querer, em alguma coisa inútil. Isso os adultos já erram pela falta do botão "tem certeza" em qualquer coisa que não o tenha—sabemos bem do dia-a-dia de usuários de tablets e smartphones, como é tentar clicar num link de imagens de gatinhos e receber num erro anúncios de fraldas geriátricas e webcams com garotas de Cubatão fazendo quadradinho de 8. Agora pensem, num jogo feito para crianças, criaturas naturalmente impulsivas, inconsequentes e imprecisas...aí que fica realmente...interessante...

Chegou a conta do cartão de crédito! Gameloft agradece!
Querida Gameloft, eu entendo você. Claro que precisa ganhar dinheiro: e que a licença para fazer um game com a franquia mais preciosa de uma empresa milionária como a Hasbro não é barata. E, sim, eu sei que joguinhos de construção de cidade não tem o mesmo ritmo de games de ação ou RPGs, no geral são muito mais lentos, e sim, para eles acho até aceitável que se adote um passo tão dinâmico quanto o do crescimento da grama. Mas tão lento a ponto de quem joga só ver o fim do game daqui a 2 anos e 8 meses, sinceramente, não me parece algo proveitoso. E a alternativa de gastar (assumindo que se pague pelos pacotes econômicos de 1500 joias, com ofertas de mãe para filho e descontos de atacadista) mais de R$ 400 para ganhar o que na prática é só o destravamento de códigos embutidos num programa já pronto—não algo físico, tal e qual um smartphone da Samsung ou um Nintendo 3DS, que custam não muito mais que isso, por vezes menos—me parece algo realmente insensato.

Assim sendo, peço minhas sinceras desculpas. Eu já fiz minha parte pagando os R$ 20 que esse jogo vale—se é que vale isso—em duas compras de joias feitas meramente por uma questão de honestidade. Daqui adiante, em honras a essa mesma honestidade a qual acho, deve valer para quem compra e para quem VENDE games, vou simplesmente hackear o jogo (como aliás só todo mundo tem feito). Um abraço para vocês e para a Hasbro, e meus votos de que a Derpy e a Pinkie Pie mastiguem os vossos sapatos de cromo alemão durante a noite.

P.S: Por favor, Gameloft e Hasbro, não digam que estou sendo impaciente ou trapaceando/roubando/sendo uma pirata miserável. Se eu for tudo isso, quer dizer que o jogo de vocês igualmente é uma roubalheira estrategicamente bolada para tirar dinheiro de crianças, que não vão querer esperar dois anos para ter uma Ponyville com prefeitura, Rainbow Dash a pairar nas nuvens e a Princesa Celestia trotando ao redor das macieiras, e vão meter a mão no bolso (normalmente dos pais) para comprar tudo isso. O que me lembra  demais aquele famigerado game dos Smurfs —que não era de vocês, sejamos justos...mas era igual a esse dos pôneis, até no conceito, design e engenharia. Com a diferença que os pacotes de dinheiro especial custavam bem mais barato.

Na boa? Eu comprava (tá sou idiota...)
P.S (2): Se querem tirar grana no mole de crianças e inocentes querem gerar altos lucros, façam como já ensinou o sábio Abravanel em outras eras e criem um Carnê Pônei, onde se pago rigorosamente em dia dá ao usuário um número (CONSIDERÁVEL) de joias para o game e a possibilidade de retirar os valores pagos em mercadorias licenciadas oficiais, como chinelos de dedo com a cara da Rarity, chaveirinhos de Fluttershy, bonés do Spike, ímãs de geladeira da Twilight Sparkle e jogos de chapéu com orelhas e crina+cinta com rabo da Applejack. Sim, é tudo um monte de bugiganga que não serve para nada e cujo preço é vinte vezes mais do que o custo de fabricação, mas que o povo compra de gosto e consciência limpa (ao menos é o que eu vejo em eventos por aí), e assim não ia se sentir (TÃO) enganado.

P.S (3): Para a minha CARA Gameloft: ao invés de reclamar que a estou insultando e roubando, por favor use sabiamente os R$ 20 que já lhe paguei de boa vontade e invista em melhorias da área social (online) do jogo. Aquilo está impraticável, já não consigo me conectar há mais de 4 dias, sem qualquer razão lógica.

Com amor.
Deneb Rhode.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Um Android pra Chamar de Seu—O Guia (versão 2013)



Como usuária fanática & babona de smartphones e tablets Android, fiz esse guia para ajudar outras pessoas a se iniciar no vício, digo, na alegre vida de criar um bicho desses em casa. Foi inspirado nos apelos da minha boa amiga Nathy Romanova (a.k.a. Lady Cygnus), que anda interessada em comprar um smart do robozinho verde e estava pedindo sugestões. Mais que sugestões, o mais importante é olhar certos pontos importantes que são básicos para se escolher algo desse tipo, e aí adequar ao que você vai usar, o que você vai se sentir bem em usar ou querer usar e, finalmente, o quanto você pode pagar. Seguir esse despretensioso guia (feito apenas por uma fã de Android que já usa o sistema há três anos, longe de mim querer parecer especialista), acho, vai dar uma boa ideia de margem de adequação ideal: não decidi nada, mas procurei mostrar quais pontos são os mínimos para se querer e quais as opções disponíveis nas quais se deve pensar.

Indispensável app para "beber cerveja" no smartphone: é,
cedo ou tarde sempre se instala isso e outras bugigangas
Abrindo a palestra com um conselho: mesmo que se diga "vou do Android usar só coisa simples, um browser, uma rede social e um app para ler livros"...esqueça isso. Caso é, a tentação de catar bugigangas no Google Play (antigo Android Market) é tão grande que no geral em menos de um mês o antes comportado usuário de celular vai estar com mais um app de suíte de ferramentas estilo Office com editor de texto e planilha, outro  com editor de imagens para escrever à mão e desenhar, novas câmeras com filtros, efeitos especiais e adesivos estilo Barbie, uns tantos aplicativos de sons e toques, outros tantos de fundo de tela, mais sei lá quantos joguinhos (Angry Birds incluído, claro), clientes de Twitter, Facebook, Orkut e do Fórum dos Alérgicos a Pepino, media players variados, widgets de clima, relógio, bateria, wi-fi, biorritmo, plástico-bolha virtual, programas de streaming de músicas e filmes, mais uns tantos apps de diagnóstico, organização, compras coletivas, power yoga, utilidades domésticas, guias de receitas de comida, bebida, tricô, apps de eventos (de Rock in Rio até o Bar Mitzvah do primo do vizinho da rua de trás), apps para achar táxis, floriculturas de plantão, cantinas cipriotas, realidade aumentada ou encolhida, gadgets e gizmos como réguas, lanternas, bússolas, telêmetros, contadores, gatos falantes, máquinas de fazer "pim", mapas de GPS, da Terra Média e de Nárnia, enfim...não acredite que vai usar um Android para "pouca coisa" e "só para o básico", que é muito difícil se controlar para isso.

A boa notícia? Seguindo meus bobos conselhos de tia velha você vai ter uma chance bem melhor de conseguir fazer todas essas extravagâncias sem seu smartphone travar, virar uma abóbora ou se recusar a rodar apps e lhe deixar na saudade: a ideia é escolher um Android pra ficar, para aguentar desaforos e lhe ajudar ao invés de atrapalhar. Sem delongas, veja então o Guia Mafagafo de Como Escolher um Smartphone Android Pra Chamar de Seu.

Imagine a delícia que é ver filme no smartphone da direita
Ou atender uma ligação no meio da rua no da esquerda...
1) Tamanho da tela: Tem desde pequenininhas, de 2.5 polegadas até gigantonas de quase 7 polegadas—sim, quase o tamanho de um tablet. As telas maiores no geral tem resolução melhor, são mais confortáveis e mais adequadas para ver vídeos, ler, jogar, escrever (escrever numa telinha de 2.5 é tortura, vai por mim). Mas as telas maiores tendem a ser mais frágeis e sujeitas a danos, e os aparelhos bastante desajeitados para transportar e usar como telefone (um smart de 7 polegadas provavelmente exigiria o uso de fone bluetooth: como botar um bagulho enorme desses na cara pra falar?)


Swype: deslize o dedo entre as letras e ele escreve a palavra!
Claro, nem sempre a que você quer, mas...
2) Teclados: Tem smarts Android com teclado físico e outros com teclado virtual, apenas na tela de toque. Aconselho a testar antes, para ver qual é mais confortável. Os teclados físicos no geral são ou do tamanho do celular (deslizante, embutido embaixo) ou ocupando meio corpo do aparelho (o que resulta em teclas bem pequenininhas, pra falar a verdade. Mas muita gente acha mais confortável que usar teclado só na tela de toque). Teclado na tela de toque (seja os de digitar mesmo ou os de deslizar o dedo na tela ligando as letras) no geral usa corretor ortográfico para agilizar a digitação, e por vezes escreve coisas estranhas sem que a gente queira: ele pode corrigir por conta, trocando por exemplo a palavra "pacífico" por "paçoca"...Veja AQUI o que o corretor ortográfico pode aprontar com você (em inglês...mas vale demais a pena, leiam!).

Tem soluções intermediárias caso sua mão não se dê bem com nenhum desses métodos de digitação:

a) usar uma stylus (canetinha para tela capacitiva, uma de R$15 com ponta de borracha já resolve) pra digitar na tela de toque

b) ou comprar um teclado wi-fi ou bluetooth com teclas maiores (cuidado com teclados bluetooth: alguns aparelhos só aceitam bluetooth para fones de ouvido e para transferir arquivos de música, fotos e texto. Ou seja, o teclado não funciona com o smartphone. Verifique se o aparelho tem o perfil HID habilitado caso queira usar teclado externo bluetooth).

Claro que um smartphone precisa de uma boa câmera:
como postar fotos do seu gato no Instagram sem isso?

(Gato: Sol, macho, 1 ano na época. De @tomiinya, Japão)
3) Câmera: No geral aparelhos Android tem câmera: ou só uma atrás ou uma atrás e outra na frente, junto da tela. Depende pra que você vai usar o smartphone: se quiser usar para videochamadas (Skype, videoconferências, etc), aconselho que tenha câmera na frente.

Essa câmera frontal no geral é bem fraquinha, mas convém que a de trás seja razoável, especialmente se você quer usar Instagram. 5 Megapixels pra cima e SEMPRE com flash de led junto. Se quiser arriscar uma câmera com menos Megapixels, peça para testar antes e veja se as fotos não ficam enevoadas/borradas.

Não queira seu cartão de memória funcionando assim



4) Armazenamento interno: Aparelhos Android no geral aceitam cartões de memória até bem grandes, mas o ideal é, para os apps (programas) usar mais o armazenamento interno do aparelho mesmo: embora o recurso de passar apps para o cartão e executá-los direto de lá exista, a verdade é que muitos rodam capengamente da memória externa e outros nem rodam ou podem ser transferidos (é o caso dos widgets, programinhas executados direto na tela do smartphone com funções simples, por exemplo, relógios e previsão do tempo). 

Há outros problemas em confiar somente na memória expansível: cartões de memória maiores no geral acabam funcionando mais devagar—mesmo os de classe mais alta, que deveriam ser mais velozes—e quanto mais cheios, mais lentos. E tem mais: rodar apps direto do cartão é um tipo de sobrecarga e se o usuário exagerar nisso, ele pode queimar: sei porque eu já queimei um Sandisk Ultra, de pedigree e top de linha fazendo isso. Tá, precisa abusar, eu abusei...mas PODE acontecer. E ao trocar o cartão de memória  o usuário pode ser obrigado nesses casos a perder horas reinstalando tudo o que tinha.

Então...quanto mais armazenamento interno, melhor. Menos que 2 Gb, eu diria, é inaceitável nos dias de hoje. De resto, use seu cartão de memória para guardar textos, filmes, músicas, fotos, enfim, arquivos, e procure não usá-lo (muito) para rodar apps direto dele.

Esse é o monstro dos monstros: Tegra 4, a.k.a "Wayne".
Quad-core de 1.9 Ghz, haja força bruta! Em breve no mercado
5) Processador e Memória RAM: é igual computador, uma máquina com processador mais forte e mais RAM roda melhor programas e vai poder rodar aplicações mais recentes e pesadas. Isso inclui o próprio sistema Android: máquinas com processadores mais fortes tendem a receber mais atualizações, sejam oficiais ou não (no fórum XDA tem muitas atualizações não-oficiais maravilhosas, feitas pelos verdadeiros magos que tem lá. Lembre-se que há só um porém: usar atualizações não oficiais, pode invalidar garantias em alguns casos).

A única diferença do seu smartphone para um computador a grosso modo é que não há nenhuma chance de upgrade de hardware, você não pode por mais memória ou trocar o processador do seu smartphone.

Então, se tiver ideia de ficar com o aparelho por um bom tempo (4 anos ou mais) recomendo que o processador seja um single core de 1.1 Ghz ou um dual core (ou coisas ainda mais parrudas, o céu é o limite). Menos que isso periga dele "envelhecer precocemente" e com o tempo começar a engasgar com apps mais pesados e falhar na compatibilidade.

Se tiver ideia de pegar o aparelho para trocar logo (em até 2 anos), de 800 Mhz a 1 Ghz de processamento é bem razoável. Menos que isso honestamente eu já não aconselharia não.

Nota: apps de fotografia (desses com stickers, filtros e efeitos variados) comem muito processamento. Mesmo 1 Ghz pode ser insuficiente para rodá-los (sei por experiência própria, já aconteceu comigo). Nesses casos pode ajudar pegar um smartphone com GPU dedicada—isso é um chipset ou parte do chipset dedicada para gráficos, é meio que como a placa gráfica de um computador—que pode compensar essa limitação, seja para apps de imagens, multimídia ou jogos.

As versões do Android são deliciosas: tem nomes de doces! A próxima
deve se chamar Key Lime Pie (Torta de Limão, para o Android 5.0)
6) Versão do Android: alguns aparelhos (sobretudo os mais baratos) "empacaram" em versões antigas do Android e não recebem mais atualizações oficiais (pode até rolar algo extra-oficial nos fóruns da XDA, mas não tem garantias no geral: é caso de ir lá e ver se tem, mas pode não ter, e se tiver, atualizar seu Android por conta e risco, podendo mesmo invalidar garantias). Android em versões mais recentes pode ser necessário para rodar apps mais novos.

O ideal: comprar aparelhos com Android 2.3 (Gingerbread) para cima, para não correr riscos. 2.3 costuma ser suficiente para rodar a maior parte das coisas atualmente—lembrando, a versão atual é bem adiante dessa, é a 4.2 (a mais nova Jelly Bean).

Preste atenção:

a) Android 3.0 (Honeycomb) NÃO é compatível com celulares (é só para tablets!) Não compre smartphones com Honeycomb!

b) A partir da versão 4.1 (Jelly Bean), o Android não recebeu mais instalações compatíveis e atualizadas do Adobe Flash (que, especula-se, vá ser descontinuado num futuro não muito distante). O Flash ainda roda...em uma forma arcaica, sem suporte e com uns tantos soluços: mas precisa baixar e instalar por fora (não tem mais Adobe Flash no Google Play) e ser usado com browser compatível (tem muitos que não aceitam).

Não sei quem é o autor. Mas, num dia só, é bem isso...
7) Bateria: sim, smartphone tem uma bateria que dura pouco, se comparada com telefones não tão "espertos". Mas ainda assim dá pra usar bem. A regra é por para carregar todas as noites. E, ao escolher, ver os que por tempo de conversação (que simularia um uso ininterrupto do aparelho em condições médias),  tenham pelo menos umas 6, 7 horas de autonomia (o que dá um uso normal que cobre bem um dia).

Lembrando: telas maiores e com definição melhor, câmeras melhores, processadores mais fortes comem mais bateria. Jogar jogos, ver filmes e ouvir música são coisas que também aceleram bastante o consumo. Para poupar bateria, desligue GPS, Bluetooth, 3G e Wi-Fi quando não estiver usando. Não deixe a tela no máximo de brilho ou acesa sem necessidade, mantenha a bateria calibrada e use apps como Juice Defender para monitorar possíveis processos mais "comilões" e os desligar automaticamente.

Sim, ele aguenta. Mas não faça isso: é
crueldade contra smartphones!
8) Resistência: como costumam ser finos e ter telas proporcionalmente grandes, aparelhos Android podem ser bastante frágeis: dependendo de como sejam tratados correm o risco de terem telas arranhadas ou quebradas, sofrer danos no corpo e até mesmo quebra de placas internas. Não queira ver seu aparelho no conserto cedo demais! Por isso o ideal é escolher aparelhos que tenham telas feitas com Gorilla Glass (mais resistente a impactos e riscos), além de físicos reforçados com boa construção e de preferência boas ligas—já existem aparelhos que usam kevlar no corpo e empresas já falam em usar grafeno, mais duro ainda. Alguns raros aparelhos também são à prova de respingos, umidade e até submersão (coisas que também estragam telefones).

Claro, esses aparelhos são ainda minoria, e alguns podem ser escorchantemente caros. Se optar por um smartphone não tão duro na queda, lembre-se de usar película no vidro frontal e estojo/capinha protetora no corpo. E mesmo que o aparelho seja à prova de impacto/água/poeira/Godzilla/álbuns do Calypso, tenha bom-senso e evite expô-lo a situações de risco só para mostrar que ele aguenta (ainda é só um celular, não o Exterminador do Futuro).

9) Redes: Um bom smartphone Android vai ter uma recepção de sinal de telefonia estável (que não some ao você por a mão no aparelho, por exemplo) Wi-Fi, 3G e Bluetooth. Um smartphone melhor ainda vai ter geolocalização por GPS. E um ótimo aparelho vai dar suporte a DLNA (compartilhamento de streaming de mídia com aparelhos compatíveis com DLNA) e tethering, ou seja: vai poder compartilhar a própria rede que está usando com outros aparelhos conectados a ele por Wi-Fi ou Bluetooth, funcionando literalmente como um roteador (nota: é um procedimento que exige bem do processador. Mas é MUITO bom e MUITO prático nas horas de necessidade).

Agora, a dúvida: aparelho com 3G ou 4G? Bom, deve-se ter em mente que smartphones só com 3G não vão poder ter 4G de jeito nenhum (o hardware é incompatível e não dá upgrade). Dos com 4G, até agora os poucos aparelhos disponíveis são caros. Mas 4G vai ser o novo padrão de internet móvel—ou, melhor dizendo, um padrão BEM MAIS RÁPIDO—e lembrando: aparelho 4G também tem 3G. A longo prazo, são os que vieram para ficar. Se quiser comprar um para garantir lugar mais cedo no novo mundo com velocidades de mais de 100 Mb (contra os menos de  7Mb atuais), escolha aparelhos que usem o padrão de 4G LTE (que é o adotado no Brasil).

(E para tablets...nah, aconselho os só com Wi-Fi, por enquanto. No futuro sempre dá para comprar um mini modem/roteador de bolso e usar com um chip 4G. Mais fácil, sem esperas e evita dores de cabeça).

Aqui, só lembrar  o seguinte: o uso de muitos recursos do smart ao mesmo tempo pode derrubar algumas redes (até a de telefonia, literalmente "sumir" com o sinal por falta de memória. Portanto, uma boa quantidade de RAM é sempre bem-vinda).

Isso precisa de conserto...
10) Assistência técnica e garantia: Olha, smartphone, por mais resistente que seja, quebra. E na hora em que quebra, ou você tem ONDE se socorrer ou vai ter muito o que chorar (e muito que se contabilize em dinheiro). Portanto, veja antes de comprar quais marcas tem representações e assistências técnicas oficiais no Brasil: de outro modo a alegria pode virar desespero de uma hora para outra. Não pense que aquele smart que está barato no Mercado Livre, importado, potente e bacana sempre vai ter onde consertar e, o pior, trocar peças.

Lembre-se que até dá para comprar com certa segurança coisas que não estejam lançadas oficialmente no Brasil, mas de empresas que tenham representações e assistências técnicas oficiais aqui. Por exemplo, um modelo de smartphone da marca X, que tem vários outros modelos lançados no Brasil menos esse específico. Não é segurança TOTAL—pode acontecer de dar defeito justamente naquela peça que não vem para o Brasil nem por decreto—mas no geral uma assistência técnica oficial daqui teria um bom número de peças compatíveis com seu modelo, mesmo sendo importado (ou, em alguns casos poderia encomendar a peça. Isso normalmente demora, mas é melhor que ficar a ver navios).

Garantia é também algo que ajuda, e pode ser salvadora caso o aparelho venha com defeito ou vício de fábrica, ou quebre do nada sem maiores explicações. Tenha em mente no entanto que por vezes a garantia pode virar uma prisão: para evitar perdê-la você provavelmente não vai poder fazer root no seu smartphone (veja adiante o que é) ou trocar o sistema operacional por um dos customizados mais interessantes do que os que vem de fábrica. No meu caso pessoal, esperei a garantia do smartphone expirar para fazer root e por um sistema customizado, e ainda não fiz isso com o meu tablet.

Algumas empresas que vendem aparelhos importados não lançados no Brasil oferecem alguma garantia direto com elas em caso de defeito. Se for comprar numa dessas, verifique se tem isso ou não.

Cyanogen Mod e MIUI: customizações do Android
que o deixam bem mais interessante, parrudo e flexível.
Para instalar precisam de root e bootloader destravado
Algo mais, mafagafo?  Sim : a "maldita" vida mais técnica: detalhes que aparentemente são coisas de geeks com poderes de programação/engenharia, mas que na verdade não são tão difíceis e podem fazer a diferença:


A) Aceita "root"? : Esse processo de "root" dá acesso as pastas de super usuário do aparelho, e é necessário para rodar alguns apps (como o salvador de pescoços Titanium Backup, que consegue restaurar literalmente tudo que o seu smart tem em caso de perda de dados). Não é algo que se obtenha oficialmente, todavia: pode até invalidar uma garantia, dependendo de como a empresa considere. É necessário ver se tem gente fazendo e como essa gente está se saindo antes de testar.

B) Tem "mods" de apps para meu aparelho? : Alguns apps rodam mal em certos Androids (é o caso do Flash, não suportado mais em aparelhos mais novos, alguns browsers que funcionam de modo estranho neste ou naquele aparelho e do Netflix, que pode ficar com legendas minúsculas demais, ilegíveis). O ideal é ver que apps você quer mas funcionam precariamente e se existem versões feitas por usuários que corrijam esses problemas.

OBS: Pode ser o caso do Instagram. Por alguma razão inconveniente o app não está mais rodando em diversos aparelhos desde as últimas atualizações (sobretudo em smarts da LG, não importa o quão fortes sejam). Pode ser que se precise usar uma versão mais antiga para funcionar.

C) Aceita "overclock"?: Overclock é o ato de se acelerar o processador para rodar melhor alguns apps, isso é bem útil para rodar games. Alguns smarts toleram bem isso, outros literalmente "fervem" e estragam. Veja primeiro se realmente vai precisar do overclock, e caso precise, veja se o aparelho aguenta (pergunte para quem já fez como fez e o quanto de aceleração do clock o processador tolerou bem). Lembrando: aparelho "overclockado" consome mais bateria.

Não vou citar aqui o processo de destravar bootloader: embora seja um potencial salvador de algum smart com defeito, e indispensável para quem quer trocar o Android do smartphone por uma versão customizada mais legal. Mas se usado de forma errada pode até brickar de uma vez o aparelho, traduzindo: inutilizá-lo, transformá-lo em tijolo, dar perda total (ou apagar dados importantes...enfim, arriscado). Mas seria bom ter esse ás na manga à disposição para algum momento de desespero (ou para trocar o Android "stock", de fábrica por MIUI ou Cyanogen Mod, ou alguma outra boa versão customizada do sistema operacional).

Este post não contém maçãs.

Interessados nelas, favor se
dirigir ao endereço
cybercook.terra.com.br
E é só. Boas compras e...antes que alguém me pergunte, não, eu NÃO vou falar em iOS, iPhone, iPad e o escambau aqui. E nem os sugeriria em favor de coisas com Android. Caso é: eu não gosto de iOS nem da arquitetura física de iPhones e iPads, já usei, já tentei e não gostei. Questão de preferência, ok? (então, se você é um Apple fanboy/fangirl, viva feliz com sua preferência e continue curtindo coisas da Apple tanto quanto eu curto Android...mas curta na sua e longe deste post, ok? Este post é só sobre ANDROID, e comentários sobre iOS vão ser considerados off-topic e serão apagados. Estabelecidas as regras aqui, certo? Beleza então...)

domingo, 17 de março de 2013

A Espiral da Desmotivação do Autor de Fanfiction (o A B...Z da coisa)



Certo, decente: você lê fanfiction. Gosta de fanfiction. E gosta de um autor específico, que lida com isso. Mas aí, se falam de você dar alguma review para a criatura (ou, pior ainda, se esse autor faz a heresia suprema de PEDIR uma review, coisa que todo mundo diz que é "feia, boba, chata e coisa de mendigo piolhento"), você foge do ficwriter, bate-lhe a porta na cara como se ele fosse um Testemunha de Jeová vendendo carnês do Baú da Felicidade e ainda estufa o peito para dizer alguma coisa bonita, do tipo:

"—Eu não dou reviews porque escrevo muita coisa nelas e fico cansado escrevendo. E não vale a pena escrever só um 'tá lindo, continua', não é mesmo? Review tem que ter conteúdo, e conteúdo cansa pra fazer..."

"—Se eu der reviews vão me cobrar mais reviews. Assim evito."

"—As pessoas jamais iriam aceitar uma review com críticas negativas, e estou me tornando a cada dia uma pessoa mais crítica. Posso ofender o ficwriter se der uma review."

"—Falta de reviews é sinônimo de qualidade, você vai mostrar que é bom mesmo se tiver nenhuma. E pessoalmente lá no reino ao redor do meu umbigo e no meu mundinho de fantasia duvido que o público busque fics para ler pelo número de reviews, gente inteligente, chique, bonita e antenada não age assim."

E, minha "favorita":

"—Autor que é autor de verdade JAMAIS deveria se incomodar com quantas reviews tem, ele ESCREVE e PUBLICA só para si mesmo!"




Então tá, decente. Agora, por favor, se puder me emprestar uns minutinhos de sua atenção, por favor olhe a lista a seguir. Não é nada de mais, só a descrição cronológica e passo a passo de como um autor se sente ao escrever fanfiction e ver o feedback "bacana" que recebe de gente como você. Era para ser um "A B C" de como o ficwriter reage, mas temo que precisei usar mais letras. Sem demoras, veja como funciona:







  • Fase a) "Escrevo a fic para mim mesmo porque eu gosto dela! Dane-se o feedback, quem é tão carente que precisa disso? Escritor que é escritor não precisa de retorno, escreve para o prazer de si mesmo! É para mim que escrevo, é para me divertir!"

  • Fase b) "Tou com a fic aberta aqui...nossa, dá bastante trabalho escrever...e revisar...a gramática tem que estar correta, é importante evitar os vícios de linguagem...É a velha história: pensar é fácil, por no papel (ou no computador) já é bem mais complicado, isso vale para escrita tanto quanto vale para desenhos. Mas é algo que eu gosto de fazer, então vamos em frente! Não precisa de feedback, é para mim."

  • Fase c) "Puxa, abri a fic no intervalo do trabalho, mas tenho que sair, hoje tenho contas para pagar, abastecer o carro, fazer compras para a mãe, achar a serra tico-tico que meu tio queria, pegar o texto do TCC da minha priminha em mãos para revisar (ela não quer mandar por e-mail) e...disseram que lá na pet shop vão vender a nova ração da Royal Canin com desconto. Se der tempo eu ainda vou no dentista, obturar o dente do siso que tem doído sem parar. Ah, fic, me espere! Resolvo isso e já volto! É para mim, afinal..."

  • Fase d) "Engarrafamento do capeta, fila no banco, no supermercado, na pet shop, no posto, na loja de ferragens, fila até na delegacia: fui prestar queixa, um flanelinha riscou a porta do meu carro...Não deu nem para ir ao dentista. Chega, vou lidar com a fic...cacete, escrever cansa...Tou pregado. Ah, hoje não dá, então, amanhã...É para mim..."

  • Fase e) "Bom, não deu para lidar com a fic hoje, mas vou revisar e lançar aquele capítulo anterior que deixei na espera, está parado há um mês, coitado. Revisar...ô canseira...agora upar...Feito! Feedback? Não estou pensando nisso, imagine, é só para mim..."

  • Fase f) "Passaram alguns dias e ninguém leu. Até tem hits no ff.net, mas acho que foram casos de gente que chegou nela por engano, não teve um retorno. Paciência, escrevo para mim, já disse! Então...vamos nos divertir escrevendo mais, sim? ***olha o videogame***Bom, né, é só por diversão, e daí que não tem feedback? ***olha o media player com episódios de Kuroko no Basket e um filme do Spielberg esperando para serem assistidos***Eu me divirto escrevendo, divirto sim ***sacode a cabeça com força, senta na frente do computador, abre a fic, fica lá brigando com o teclado de letras apagadas e com uma barra de espaço com defeito***vamos lá, escrever, escrever...fome...quero um sanduba..." ***vai para a cozinha e não volta mais***

  • Fase g) "Hoje encaro essa fic!!! É em meu nome que faço!!!" (é sábado: rala o dia inteiro até fechar o capítulo. Vai dormir às 6 da manhã, lembrando que deu bolo nos amigos que lhe convidaram para ir ao cinema e depois comer pizza).

  • Fase h) "Publicado, e de novo sem retorno. Em compensação o limãozão publicado no mesmo dia com Milo de Escorpião, Naruto, um Gary Stu , o Heero Yui e uma banda coreana numa suruba sem história, escrito em miguxês está bombando" ***tenta controlar a sensação não de inveja, mas a de 'mas que porra estou fazendo aqui???' e repete o mantra 'dane-se, é para mim que escrevo...dane-se, é para mim que escrevo...'***

  • Fase i)"Transtornos da vida real me impedem, aconteceram acidentes, estou com pepinos graves para resolver. Coisa ruim mesmo, estou nervoso, ou resolvo ou entro em parafuso. É uma emergência! A fic que espere. Ela é para meu bem, mas se eu não resolver esses problemas antes, me ferro."

  • Fase j) "Hoje assisti o novo do Tarantino com uns amigos! Que coisa boa ir ao cinema, tomar sorvete, ver gente, viver...eu ia perder isso se eu ficasse em casa...mas lembro que tenho a fic. Relaxei hoje, mas é um compromisso terminá-la...Compromisso comigo mesmo, claro, ninguém a lê fora uns poucos bem poucos até onde eu saiba..."

  • Fase k ) "Poxa, lembrei dos poucos leitores que tenho. Eu adoro eles. Mas, na boa...parece que vivem bem sem a minha fic. Parecem se importar mais com outras coisas, alguns nunca dão reviews...Não é desprezo por eles, ao contrário...só acho que realmente nem para eles a fic é assim fundamental...Mas claro, ela importa para mim, vou fazê-la..."



  • Fase l) "Na boa? Acho que sou a única pessoa que se importa com essa fic. Mesmo os poucos alegados leitores pelo visto tem vergonha de dar feedback. Se dão, é só em rede social, via mensagem pessoal no Facebook ou no Twitter, no máximo algo em alguma tripa de outro assunto. Algo mais 'indelével' como reviews, favoritos e kudos não rola. Nunca que vão dar review, paciência".



  • Fase m) "Tou chateado e com os miolos cozidos de tanto pensar em plots que tenham pé e cabeça, de tanto passar noites e noites acordado fazendo pesquisa para não escrever besteiras, de tanto me cobrar qualidade de escrita e me vigiar para não fazer uso leviano de personagens. Faço a fic por mim: e ela em troca me fez esgotar o estoque de Neosaldina da casa."



E trate de dar review!
  • Fase n) "Enquanto isso um amigo quer que eu dê review na fic dele (que está ficando bem popular, aliás). Não li, os temas que ele lida não me agradam. Mas vou lá, já que ele pediu vou ler assim mesmo. É justo, é por um amigo...e acho que é só por isso que ele diz que preza o que eu faço, afinal: só porque é meu amigo. Com base no que ele escreve, imagino que igualmente ele não deve gostar do que eu escrevo. Minha fic...eu escrevo para mim, melhor não pedir nada dele (mendigar é errado. Né?)"



  • Fase o) "Dei review na fic do meu amigo. Perfeito. Mais tarde, antes que eu dissesse qualquer coisa, ele abriu o jogo e admitiu que não dá review nas minhas e nem lê o que eu faço: disse que me acha um bom autor, mas que o tema lhe dá nojinho (bom...e como ele sabe se eu sou um bom autor? Mistério...) Tá, é um direito dele...(claro que não é razão para estresse: eu já falei hoje que faço a minha fic só para mim?)"

  • Fase p) "Fui lidar com a fic. É só escrever, plot pensado (sinto a cabeça pesada, não sei se é resfriado ou só a falta de sono...não está rendendo...). E depois...publicar, vamos lá, acessar minha conta no Fanfiction.net, no Nyah!, no Ao3, em todo lugar, divulgar, deixar acessível...Mas, pergunta: se escrevo PARA MIM e já que NÃO TENHO RETORNO, pra que é que vou publicar seja lá o que for?"

  • Fase q) "Descobri que plagiaram uma de minhas fics românticas antigas. Trocaram o fandom, o par (por um bem pop) e escreveram de um jeito menos cuidado. O argumento, as situações, os lugares, o enfoque e até o gato que aparece no fundo de uma das cenas coçando a orelha: está tudo lá. No título mudaram apenas o nome do personagem usado. Esse plágio tem mais reviews em um dia do que minha obra inteira em seis anos, a autora tem um fórum e comunidades que congregam uma legião de fãs agressivos que eu já vi transformarem a vida de quem a enfrente num inferno. Bom, se prezo minha sanidade mental, não vou poder nem denunciar. O jeito é seguir escrevendo...só para mim..."

  • Fase r) "Apareceu um cara ME acusando numa review desaforada de plagiar a fic que me plagiou. Expliquei o caso para ele por e-mail, mas ele se limitou a responder "não tente me enrolar, está na cara que a sua fic é só uma cópia barata da qual ninguém gostou!", e citou minha crônica falta de reviews como prova. Não adiantou que eu argumentasse que a fic da tal autora é mais nova que a minha, ele pareceu ignorar o que eu dizia. No mesmo dia apareceram mais dois colegas dele (das comunidades de fãs da ficwriter que copiou meu texto) me xingando nas reviews de minha fic copiada, dizendo que souberam do meu trabalho porque o cara o 'esculachou com altos motivos' no fórum deles, acrescentaram que odiaram minha fic por ser 'pouco original'  e 'deturpar personagens'. Tenho agora três reviews num dia: todas negativas, e na verdade por nada. Vou reportar abuso, sei lá quando apagam, se é que apagam. Esquece, melhor pensar na minha fic nova, ela é feita para mim, vai me alegrar...estou sem disposição pra lidar com esses assuntos."

  • Fase s) "Eu escrevo para mim. Mas talvez eu não precisasse passar pelos aborrecimentos que tenho enfrentado se meu trabalho fosse mais conhecido. Talvez o problema seja esse: ninguém conhece o que eu faço. Eu devia tentar fazer propaganda de meus textos em redes sociais...ou não, já que na maioria dos lugares as pessoas acham que isso é mendigar vergonhosamente. E tem mais o seguinte: eu frequento essas redes, tenho até que bastante amigos nelas. A maioria gente de fandom. A maioria que sabe que eu escrevo fics...Bom, eles não leem e não dão retorno porque não querem. E dizem que é feio e coisa de pessoa carente pedir feedback, que quem pede só importuna os outros...Então é melhor desistir desse plano antes que eu receba espinafração em troca da propaganda. E é como dizem, quem precisa disso, se o legal é escrever e publicar para minha auto-satisfação, só para mim? Certo?"

  • Fase t) "Um amigo me sugeriu parar de lidar com fics sobre temas não-populares e bolar algo de pares e situações mainstream em fandoms da moda, como qualquer pessoa normal faria. Eu disse que não gostava da ideia, e que faço minhas fics para mim mesmo, com os temas que me agradam. Vou escrever para mim...Mas fico pensando: tão pouca gente lê, será que são só os temas incomuns que incomodam...ou na verdade é porque escrevo mal?"

A alegria de se receber a terceira review
 numa fic publicada em 2007...Olha o sorriso!
  • Fase u) "Seguindo o conselho desse amigo, escrevi alguma fic com tema pop e pares pop. Foi sofrido e enjoado fazer, mas saiu, cuidei dela tão bem quanto das outras. Está publicada há três semanas e não recebo retorno algum. Acho que o povo realmente não gosta do que eu escrevo. Uma das poucas pessoas que fez contato comigo sobre a fic disse 'ah, eu tenho medo do que você escreve, sempre tem aquele par que eu não gosto'. Expliquei que não era o caso desta vez, e a pessoa pareceu não acreditar (...azar...deles...eu...escrevo...para...mim...)".

  • Fase v) "Descobri reviews emocionadas que tanto meu amigo que não lê minhas fics por ter 'nojo do tema' quanto outras pessoas que diziam 'ter nojo do tema' deram nas fics de uma ficwriter famosa. Que escreveu sobre exatamente o mesmo tema que eu. Bom, acho que de fato não gostam do que eu faço (embora houve quem me dissesse que essas pessoas só queriam ficar de boa com essa ficwriter importantona, daí foram puxar o saco. Não sei o que ganham com isso, mas...). Eu olho para minha fic aberta no editor de textos e imagino que poderia não ser algo só para mim (como é) e agradar muita gente se fosse escrita por uma dessas pessoas ilustres e influentes (que eu não sou)..."


  • Fase w) "Me empurrei para a frente do computador e comecei a escrever: vou terminar essa fic custe o que custar, é para mim que escrevo, afinal! Minha satisfação...ou seria honra? Ou apenas pela coerência de terminar o que comecei? Eu quero escrever? Quero mesmo? A fic e está parada há tanto tempo... Melhor reler tudo o que eu fiz. Enquanto vou relendo (e gosto do que releio), fico pensando em por que ninguém dá retorno. Acho uma possível explicação numa das três reviews de uma das minhas fics de seis anos, onde está escrito: "Sabe, gostei muito mesmo de sua fanfic mas evitei lê-la por anos porque achava que ela devia ser ruim: afinal quase ninguém deu review para ela, e normalmente as pessoas pensam que falta de reviews significa que o texto não presta". Olha, talvez as pessoas tenham razão. Passa pela minha cabeça que se ninguém dá retorno, deve estar ruim a ponto de ninguém querer ler, e que eu me divirto com a fic por alguma questão muito pessoal, excêntrica e que só eu entenda. Devo ter um senso de qualidade estranho. Como é algo que estou fazendo só para mim, eu mesmo que deveria julgar se a fic está boa ou não...embora eu apreciasse algum retorno, alguma análise vinda de fora...esquece, não tenho isso mesmo, nem adianta fantasiar."

  • Fase x) "Definitivamente gosto do plot e das situações da minha fic. Me divirto bastante pensando nelas antes de dormir, às vezes dá até para sonhar com tudo aquilo. Escrever, por outro lado dá muito trabalho, toma tempo, dá aborrecimentos e não traz retorno. Vou pensar bastante na minha fic: é só para mim que penso. Apenas pensar: porque se escrevo, vira uma  coisa de fato para os outros, dar um formato que eles entendam. Para mim mesmo basta o que já existe na minha cabeça, não precisa sair dela, não precisa de 'forma física', digamos."

  • Fase y) "Eu ia escrever hoje, mas a fadiga me impede. Sei que, como bom autor, tenho que ser maduro e valoroso, aceitar o que o povo diz, não mendigar, não reclamar e escrever (e publicar) só para mim. Mas também é por mim que estou tentando me agradar jogando Super Mario Galaxy e comendo Doritos ao invés de escrever, e acima de tudo, é por mim que estou tentando evitar ainda mais danos à minha auto-estima: e evito os danos não escrevendo ou publicando. Porque, sim, ver que o texto no qual depositei tanto trabalho está sendo ignorado até por quem diz que sou um "bom escritor", me deixa realmente para baixo. Não dá ânimo em continuar a empurrar essa bobagem para cima dos outros. Escrever e publicar deixou há muito tempo de ser um prazer para virar um aborrecimento estéril".







  • Fase z) "Não tenho escrito. Se a vontade de escrever aparece, tomo a atitude que mais me parece ajuizada: deito e espero passar. Não tenho feito nada. Mas, também, acho, não está fazendo falta pra quem quer que seja: então..."***vira pro lado e dorme***





Então, decente: é isso que acontece. Quem publica quer leitores, e desmotiva bastante não ter resposta desses supostos leitores. Eu podia até falar do quanto reviews são importantes  para ficwriters também para divulgar uma fanfic, uma importância que vai muito além de uma massagem tailandesa no ego...mas é melhor deixar para outra ocasião. Ao menos, espero que após ler tudo isso—se é que você leu—que sua excelência passe a pensar melhor no que está fazendo (ou melhor: o que está deliberadamente deixando de fazer, deixando de dar retorno para quem escreve, dando a impressão de que o texto está lá jogado para as baratas). Ponha-se no lugar do autor e veja que bacana seria se algo no qual você pôs uma soma considerável de empenho e energia fosse simplesmente ignorado pelas pessoas ao redor.

Todo autor que publica quer ser lido. E precisa saber que alguém está lendo: mais, agradeceria se os leitores que dizem que gostam dele pudessem indicá-lo para outros leitores (E É PARA ISSO QUE SERVEM AS REVIEWS, ENTENDEU?). Fazer isso não parece algo tão ruim e que vai dar bolha no dedo, violar as leis divinas ou ofender sua honra. Afinal...ninguém aqui está forçando ou querendo botar pressão para você  ler o que não gosta (como já fizeram comigo muuuitas vezes, que se diga...Cada coisa linda que só...). E ninguém está querendo que você escreva uma review do tamanho de "Os Lusíadas". Pode escrever curto, amiguinho. Olha só,  vamos voltar lá no comecinho, onde você disse que GOSTA DO AUTOR e GOSTA DAS FICS DELE, certo? Então, se gosta, por que não dar a ele um incentivo decente para que ele continue escrevendo?

Mas aí, né...você diz que "não dá review porque a fadiga lhe impede tem razões sérias de ordem psicológica e metafísica para não dar". Você diz  que escreve demais nas reviews. Que iam lhe cobrar reviews para outras fics. Que você ia ofender o autor com críticas. Que fic boa não precisa (e não ganha) reviews. E nessas pouco importa se o autor (que você disse tanto gostar) está motivado ou não: "ele escreve e pronto, escreve como um escritor puro, apenas pelo prazer de escrever, publica pelo prazer de publicar! E vamos lendo, está tudo bem, tanto faz que ele não tem retorno...Quem precisa disso, né?"

Que seja então. O autor agradece por ser assim tão "querido" por seu público. Agora, não vá reclamar mais tarde, quando ele desistir de escrever e de atualizar fics (inclusive aquela em capítulos que você acompanhava) ou quando o saco dele encher de vez e o cidadão deletar as contas de Fanfiction.net, Nyah! e Ao3. Você não se importava mesmo. E, como dito, a gente colhe o que planta...

sábado, 26 de janeiro de 2013

Bem-vindos ao 1º Amigo Secreto do Grupo Palaestra

Origem: desconhecida, provavelmente antigo. Tirado de http://designwebkit.com/web-and-trends/problems-freelancer-team-player/
Lista da Deneb??? NOOOOOOOO!!!

(autor do cartoon desconhecido.Provável de meados de 2000)

Eu decidi entrar no Amigo Secreto de fics/fanarts do Palaestra, bom grupo de debates descontraídos sobre Saint Seiya no Facebook, evento esse criado pela querida Lune Kuruta. E sabemos que a graça dos amigos secretos artísticos/literários é justamente por autores fora de sua área de conforto e fazê-los trabalhar com algo que seja diferente. Já estou planejando o que dar para a pessoa que eu tirei: e adianto que é uma pessoa com preferências difíceis para mim, mas que merece muito algo decente. Essa pessoa tem mostrado uma bela eficiência fazendo fics, inegável responsabilidade e sim, boa qualidade em tudo o que se propõe. Assim, não apenas assumo o desafio com boa vontade, mas até com alegria.

Mas e meus pedidos? Admito que são incomuns (o mais fácil é fic com o par romântico Aldebaran/Mu), e de certo modo justificaram a lista mais longa de "preferências" de todo o evento: e são apenas "preferências e dicas", não gosto de pensar em exigências. Não sou nenhuma pop star para exigir 400 toalhas brancas nem baixelas em porcelana de Xangai: prefiro antes ter a chance de AJUDAR a quem se propuser a escrever, dando as dicas e apoio que a pessoa precise para não se sentir perdida. Por isso a lista enorme: espero que seja um guia para que se faça o fácil e confortável ao invés do difícil.

Para facilitar de vez, abri os canais do blog para postagens anônimas moderadas, onde quem quiser pode pedir ajuda para mim, caso precise dar uma boa adequada na fic sem a necessidade de se identificar. Seja perguntando onde pegar referências dos personagens ou para tirar dúvidas sobre uso de vírgula, estamos aqui para ajudar. Pode mandar a dúvida que for, que vou responder o mais rápido que conseguir (lembre-se que não tenho o conhecimento do universo e tenho uma vida fora da web bastante exigente, posso demorar um pouco, e também tenho que fazer uma fic difícil...mas não se sinta abandonado porque não vai estar, eu atendo sim).

Lembre-se que a lista gigantemente insana está lá pra ajudar, não pra botar pressão. É só detalhada, nada mais. Inspire-se na lista de "Coisas que Agradam" que ela tem, e que é longa, dá várias opções. Ou faça algo totalmente surpreendente. Esteja e sinta-se livre!

Sobre EXIGÊNCIAS...bom, tenho. Mas dá pra resumir em poucas linhas:

—Não use as coisas da lista do "não conter/não ser" (sei que é grande, mas é a única realmente exigida)
—Não contradiga o cânone
—Se for fazer algo, faça pra valer (conto, crônica, peça de teatro, narrativas, etc. Não escreva "de qualquer jeito, só pra cumprir tabela")
—Obedeça ao português
—Lembre-se: não é para a mala sem alça Deneb, é para o fandom. Deixe algo bom para os futuros leitores.

E só. De resto, pintou dúvida, só vir aqui e perguntar. Estamos abertos até dia 13 de fevereiro, e as respostas vão ser aqui no blog mesmo (ou no Palaestra, se esse plantão de dúvidas não poluir as mensagens lá).

Esforce-se (não precisa se matar, só tenha boa vontade) e vai dar tudo certo. Boa diversão e bom desafio!



segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Comer lagarto é bom...


Eu escrevi essa piada de Saint Seiya—sim, apesar das 10 páginas é apenas uma piada—como teste das capacidades de meu tablet (um reluzente e invocado Asus TF700, armado com chipset NVidia Tegra 3) na escrita de textos mais compridos. A piada levo ao ar agora, a review do tablet, provavelmente num futuro próximo, se eu me lembrar.

Valendo  o disclaimer de sempre: Saint Seiya não me pertence, pertence ao Masami Kurumada, Toei, Ban Dai, etc, este texto não tem fins lucrativos nele mesmo, e se alguém cobrar dinheiro por estas mimosas palavras, receberá meu escárnio e será chamado de alma faminta vil, torpe e fedorenta até o dia em que a grana do Pré-Sal seja usada na expansão do metrô de Rio Branco.

Bom, sem mais delongas, a piada:




Essa aconteceu no comecinho da carreira de Milo de Escorpião como Cavaleiro de Ouro e chefe linha-dura, tal e qual o conhecemos e amamos—aquele homem mais rígido que uma viga de concreto e que de tanto andar na linha o trem não pegou: mas antes ele pegou o trem, botou em cana dez dias a pão e água no rochedo de Suinon e ainda deu-lhe uma sova de unha por andar com a chaminé suja.

Mas mesmo esse Milo tão caixias tinha dificuldades no começo, tal e qual qualquer novato. E uma das mais complicadas era entrar num acordo com a tropa, velho dilema do oficialzinho pedante, empolgado e recém saído das fraldas acadêmicas versus a malta de subalternos mais experientes, mais safos e mais safados, dos que independente de idade ou posto aprenderam a arte de enrolar superiores muito melhor do que a ler e a escrever.

E nessas, o homem foi designado para ajudar e trazer de volta para o Santuário um pelotão que havia se perdido servindo numa área de desastre, isolado já tinha semanas no meio de uma floresta numa dessas divisas de país que sempre mudam de lugar na África. Pura selva, lugarzinho sem nada, sem recursos, sem o que quer que fosse e para onde era difícil mandar provisões. Por isso mesmo, o empertigado Cavaleiro de Ouro foi para a região de mala e cuia, mas com o aviso bem dado, recomendação  direta do Mestre:

—Olhe, Milo, bote ordem nessa gente, encaminhe-os pra casa, mas por favor tenha coração: os coitados estão há quase um mês tendo que se virar por conta, perdidos, não conseguimos fazer nem o básico chegar pra eles. Então, seja severo, mas releve algumas coisas. No caso, se alguém atrasou para o serviço porque achou o que comer, deixe pra lá. Devem estar passando fome e é melhor pra nós que se alimentem e tenham força pra marchar do que se ficarem doentes.

E nessas, lá seguiu Milo para a selva, cheio de orgulho, primeiro trabalho grande. Se embrenhou com vontade, capinou sozinho uns tantos dias até achar a tropa, absolutamente perdida no meio do mato. Algo de bom: ela parecia melhor do que se esperava, meio rasgada e esfarrapada sim, mas nada pra perder o juízo. E quanto a fome, parecia que estava dando um jeito: soldados magros mas não doentes, nem sofridos nem desesperados demais, isso sem receberem que fosse um pacote de Bolacha Maria do Santuário. Milo olhou, achou por bem averiguar, descobrir o segredo que alimentava o pelotão em condições tão adversas; mais ainda que àquelas alturas sua própria ração de viagem havia acabado, e ia ter que se virar nos próximos dias. Perguntou sem rodeios pra um recrutinha com ar sofrido:

—O Mestre disse que vocês estavam sem alimento, é sério? Como estão se arranjando?

—Alimento, o senhor diz?—e o soldado coçou a cabeça—Bom, não é o pior dos problemas, a tropa é bem treinada pra sobrevivência na selva, consegue alguma coisa. Nesses lugares sempre tem bicho, a gente caça. Mas já viu, né, Comandante: dá para o mínimo, e não tem essas de escolher, é comer o que tem e pronto, sem fazer luxo: caçou galinha do mato, tem galinha, pegou peixe, tem peixe, mas se caçar urubu, morcego, vai ter é urubu e morcego mesmo. Se não for venenoso, tá valendo.

O Cavaleiro de Ouro olhou ao redor, via um tanto de bichos nada apetitosos, lesmas e minhocas no pé das árvores, besourões coloridos, lagartixas, aranhas. Alguns bem duvidosos, ou nem isso: obviamente cheios de veneno, o que era um problema dos grandes—como bom Cavaleiro de Escorpião que era, afinal, conhecia muito bem essa coisa de veneno e sabia que com isso não se deve arriscar nem em sonho. Na mão do rapaz, um improvisado espetinho de perereca crua mostrava que a situação realmente não estava pra brincadeira. Milo, continuou ouvindo atento, enquanto o soldadinho falava ao mesmo tempo em que mastigava a perereca:

—E mais, como essa é uma área cheia de feras, pra piorar tem muito bicho que come as nossas caças também. Aí não tem como esperar muito não, nem guardar pra depois: pegou, comeu. Senão perde. Tem sido assim há dias.

O graduado coçou o queixo: aquilo explicava. E de certa forma, também mais do que nunca justificava o apelo do Mestre, de não implicar com os subordinados caso estivessem comendo. Tendo isso em mente, acertou com os Cavaleiros e soldados do pelotão perdido um jeito de sair da selva: planejou de iniciar marchas forçadas do amanhecer até o cair da noite, até que alcançassem uma estrada ou vilarejo. Deixando as regras claras:

—Fiquem sabendo que vou castigar exemplarmente qualquer um que atrasar o começo da marcha, sou exigente e não achem que vou facilitar! Mas não sou burro, sei que as coisas estão difíceis e vocês precisam de energia pra marchar. Assim, quem atrasar porque estava comendo alguma coisa não vai ser castigado, mas é a única exceção que vou abrir.

Assim ficou acertado, e Milo, tanto quanto os soldados tratou de ocupar o resto do dia  em busca de provisões básicas, alguma comida que não lhe deixasse com a barriga roncando até de manhã. Viu logo que o que o soldadinho falava era mais do que verdade: caça tinha, mas era difícil pegar e mais difícil ainda de segurar. Abateu um passarinho, correu para o lugar, não achou nem pena. Tentou um peixe, mesma coisa, jacaré comeu primeiro. E mesmo o jacaré, liso, escorregadio e jogando em casa, deu-lhe um chapéu digno de Garrincha, saiu rápido pela esquerda e se escafedeu na água antes de virar jantar. Chateado, no fim do dia Milo teve que se virar mesmo com uma ou outra raiz que achou lá e cá, das amargas feito debutante traída, sorvidas com umas tantas caretas, mas que deram conta do recado.

E de manhã lá ia o homem reunindo a soldadesca, tudo pronto pra iniciar a tal marcha forçada. Não fosse por um problema:

—Está faltando gente!

Esperou bem uma meia hora até aparecer um de seus comandados ausentes: o Cavaleiro Dante de Cérbero, de ar esbaforido, cara vermelha como se já estivesse marchando desde antes:

—Muito bonito, eu não disse que não era para atrasar?! Estava fazendo o que?

E o Cavaleiro se aprumou, tomando fôlego, roupas meio desalinhadas.

—Mil desculpas, senhor! É que eu...estava comendo!

Milo não gostou da resposta: logo no primeiro dia alguém atrasa, e justifica com a única coisa que aliviava um castigo, parecia uma desculpa conveniente. Tentou pegar o espertalhão na mentira:

—E estava comendo o que, posso saber?

—Lagarto, senhor!

Bom, a resposta parecia meio condizente com a realidade: e ele mesmo não havia visto uns tantos lagartos indo para lá e para cá? Mas tinha um porém: na ocasião nem se importou em correr atrás dos bichos já que uns eram pequenos demais, outros muito difíceis de pegar, pra não citar que a maioria absoluta desfilava cores das mais suspeitas, estapafúrdias, toda a aparência de coisa venenosa que não se come. Precisava ainda conferir isso:

—Lagarto bom pra comer? E você achou um agora?

Dante embatucou por uns tantos instantes, pensou e finalmente respondeu:

—Sim senhor! Muito bom de comer, e eu comi agora mesmo!

Milo achou que era conversa fiada, mas estava meio que rendido no lance: admitia não conhecer os lagartos locais, podia ser que o outro estivesse mesmo falando a verdade. E perigava de na desconfiança atropelar as ordens do Mestre, que haviam sido tão claras: se soldado estiver comendo, é para largar sem castigo. Mal-humorado, deixou o Cavaleiro tomar seu posto na formação da tropa, conferiu apressadamente as presenças e iniciou a marcha.

No fim do dia, enquanto o pelotão exausto de andar descansava, Milo foi atrás de algo pra comer. De novo, mesmo problema do dia anterior: caçar naquele mato continuava tão difícil quanto antes, e o mais que apareciam eram uns bichos esquisitos, repugnantes ou que deviam ter veneno até nos ossos. Olhou para os lagartos, pensando que mais cedo o Cavaleiro Dante havia comido e disse que era bom: mas entre um amarelo e vermelho de tom berrante, outro azul e verde, outro roxo, outro que babava e outro que fedia, acabou ficando na dúvida sobre qual era de comer e qual não era. Esqueceu os lagartos como opção, continuou procurando algo, até pegou um par de ratos, coisa miúda mas que ao menos não fugiu dele.
Comeu um, mal carne tinha. O outro tentou guardar pra enganar a fome mais tarde, mas encheu de formiga: e aí, com os bichos revidando, mordendo a língua que mordia o lanche, se viu forçado a desistir.Acordou no dia seguinte mal-humorado, cansado e com fome. Sem paciência, tratou de juntar a tropa, hora de marchar mais uma vez.

E, de novo...

—Para tudo que está faltando gente!

Esperou, esperou e esperou de novo. Lá pelas tantas flagrou, se chegando no pelotão formado bem de cantinho, tentando não ser vistos, alguns dos atrasados: os Cavaleiros Moses de Baleia e Algheti de Hércules.

—Atrasados, eu disse que isso não pode, vão tomar punição!

—Calma, senhor!—e Moses tentava se explicar, suando em bicas—Atrasamos sim, peço desculpas, mas...mas...nós estávamos ocupados, foi uma distração, eu não tinha relógio comigo...

Nenhuma desculpa que servisse, já ia preparando a unha para castigar a dupla de sumidos. Até que...

—...por favor, o caso é que estávamos...estávamos...

—Estávamos pegando lagarto!—Algheti abriu a boca e explicou, assertivo mesmo que um tanto trêmulo. Milo bufou:

—E lá vocês estão aqui pra brincar de pegar lagarto?! Isso não é razão pra atrasar a marcha!

—Mas é que...nós...estávamos dividindo...

—Dividindo como?!

—Ahn...como? Ora...assim, tipo...tipo...comendo. Né?

De novo a desculpa de comer na hora da marcha, única que havia combinado de aceitar, e da qual já se arrependia. Bastante irritado, Milo guardou a garra e lembrou das palavras do Mestre, de que não era para punir os coitados que se atrasassem em busca de alimentos. No caso desses, então, um par de homens grandes e parrudos, dos que se imagina comendo um boi inteiro em cada merenda, terem que dividir humildemente algum dos calangos suspeitos dos arredores como se fossem um casal de mendigos repartindo uma broa velha...dava pena, a bem da verdade. Desamarrou a cara, respirou fundo, disse para os Cavaleiros atrasados tomarem seus lugares na formação e se pôs em marcha por mais um dia.

Pararam tão logo o sol se pôs, ainda enfiados naquela floresta enorme e inóspita, exaustos, com pés estourados. E fome, muita fome. Milo outra vez foi caçar: os bichos ao redor não eram diferentes dos de antes, mesma coisa, mesmos problemas, nenhuma novidade. Dessa vez não achou rato que prestasse, nem passarinho: e triste, olhou para os lagartos que ficavam ali à vontade, dando a maior sopa.

Pensou, até que uma sopa de lagarto ia bem. Lembrou dos Cavaleiros que por dois dias atrasaram a marcha por que estavam comendo lagarto: então os lagartos dali eram de comer! Decidiu que ia tirar a barriga da miséria, ia ter uma noite boa, jantando uma bela panelada de lagarto. Achou uns tantos embaixo das pedras, foi catando um por um sem nem olhar para cor, encheu a mão. E quando estava indo embora com a caça, aparece o soldadinho tristonho do primeiro dia, apavorado:

—O senhor não pegou isso pra comer, né? Esses são puro veneno, não servem! No começo teve gente que tentou e quase que morre só de por na boca um pedacinho, foi horrível! Deixa essa coisa ruim aí, Comandante, não come não!

Milo abriu a mão, deixou cair o emaranhado de lagartos coloridos. Voltava à estaca zero, sem comida e sem paciência. Frustrado, procurou alguma coisa nas árvores ao redor: tirou dois besouros mais gordos, umas lesmas, uma aranha e o grande filé da noite: um pedaço de macaco carcomido que despencou do alto, caiu da garra de alguma ave ou da boca de uma cobra menos esperta. Com isso no bucho, empurrando a tranqueirada pra dentro com um belo gole de água de poça, o Cavaleiro de Escorpião passou a noite, tripas doendo não se sabe se do inusitado jantar ou da fome que lhe maltratava.

Na manhã seguinte arrumou o melhor que pode a cara pálida de cansaço e inanição. Era valente, ia seguir a marcha custasse o que custasse, até que encontrassem uma saída daquele lugar dos diabos. Formou a tropa, queria se por no caminho o mais rápido que conseguisse.

E, de novo...

—Está faltando gente! Cadê esse bando de trastes???

Demorou para aparecerem. Quando finalmente deram as caras, os Cavaleiros Astérion de Cães de Caça, Babel de Centauro, Dio de Mosca e mais uns tantos soldados pareciam nervosos, preocupados com o que o comandante iria fazer com eles. Tanto que nem esperaram o inevitável esporro:

—Sentimos muito por isso, Comandante! Foi nossa falha!

—Até aceito punição, mas por favor, tenha misericórdia!

—Perdemos o horário, não temos relógio...e estávamos ocupados, muito ocupados desde a madrugada!

—Afinal, coisa assim leva um tempo...

—...E, bom, a gente tem visto, o senhor tem sido compreensivo com essas coisas...

—Porque, sabe como é...

E, quase que em coro:

—A gente estava comendo lagarto!

Fulo da vida, Milo aos berros mandou cada um daqueles Cavaleiros e soldados fechar a matraca e ocupar seu lugar na tropa. Ainda lhe doía no estômago a lembrança do monte de lagartos que havia encontrado na véspera, que teriam dado uma bela de uma refeição não fosse porque tinham veneno suficiente para abater a Hidra de Lerna e ainda sobrar um tanto para dar úlcera gástrica numa baleia azul. A essas alturas, por mais que se recusasse a pensar, já lhe ardia uma sentida inveja dos subordinados que sempre tinham lagarto bom pra comer enquanto ele, que mandava naquela cáfila de estrupícios tinha que se aguentar comendo besouro ao molho de lesma. Durante a marcha, a fome era tanta que mal se concentrava, sonhando com fumegantes caçarolas de répteis saborosos: por mais estranho que fosse ainda era melhor do que o que estava achando, e lá num canto da cabeça guardava em registro a informação passada por sabe-se lá quem de que carne de lagarto era sim muito boa, nutritiva e que tinha gosto de frango.

Pararam mais uma vez no fim do dia, joanetes cheios de bolhas pedindo arrego, barrigas vazias pedindo algum recheio. E, de novo já estava Milo tentando catar qualquer coisa que se comesse, sem sucesso com peixe ou ave, sem opção mais viável que as lesmas, olhando faminto para os morcegos que passavam voando no topo das árvores. Aborrecidíssimo, mastigando um ou outro vermzinho que tirava do lodo, amaldiçoava a sorte até que viu num canto Dio de Mosca, igualmente entretido na lida de catar minhocas.

Justamente um dos atrasados da manhã, que estava comendo lagarto. Lagarto. Não dava pra aguentar mais aquilo, tinha que perguntar:

—Ei, você! Escuta aqui, pode me dizer que história é essa de comer lagarto?!

Dio, muito assustado ante o chefe bravo engasgou com uma minhoca e não conseguia falar nada. Milo insistiu, tentando obter uma explicação.

—Eu sei que comer lagarto aqui não é fácil, então vai falando como é que você conseguiu comer lagarto!

Dio respirou fundo, tentou se explicar o melhor que pode.

—Então, chefe, a gente come lagarto sim, mas não era pra atrapalhar a marcha, desculpe...

— Não estou falando na marcha, estou falando no lagarto! Explica mais desse lagarto, se é gostoso, se dá trabalho pegar, que cor que é, essas coisas!

Dio fez uma cara de surpresa:

—Mas...o senhor tem interesse nisso?!

Milo explodiu, gesticulando enraivecido:

—Claro que tenho, seu retardado! Olha só onde a gente está: gastando sola de bota marchando no mato, aqui é o meio do nada, não tem nada! Levei dias pra achar o pelotão de vocês, já estamos marchando há outros tantos dias, sem nada pra nos satisfazer o básico! Nada! Já tem o maior tempo que nem vejo alguma coisa gostosa...mas nem gostosa, já tem dias que não vejo uma coisa sequer que preste minimamente! Já basta, eu estou precisando, deu pra entender?! Agora, faz o favor de responder o que eu perguntei?! Qual que é a desse lagarto???

Dio coçou a cabeça, parecia atrapalhado, ainda buscando palavras.

—Bom, se é assim...O lagarto...o lagarto é bem gostoso pra falar a verdade, todo mundo pega...No início achei que ia ser difícil, mas até que não...E a cor, o senhor perguntou de cor...bom, nada de mais, é cor comum.

—Comum não explica, quero detalhes! Descreva!

—Comum comum, nada de especial, juro! É...tipo...tipo...de prata. Mais que isso bom, sei lá...é...rosado, acho. Parece um pêssego...

Milo anotava os dados mentalmente, sem deixar escapar nada. O tal lagarto era bom mesmo, e ia ser fácil pegar: agora sabia a cor e tudo. Faltava esclarecer um ou outro detalhe, ia descobrir agora. Apertou o cerco ao subordinado:

—Muito bem, Mosca, então fala: quero saber como é que você come esse lagarto!

—Como?!—e Dio arregalou os olhos, ainda mais confuso e surpreso com a intensa curiosidade do graduado—Bom, do jeito normal, claro...O normal, o comum, como...tipo...como comendo, como todo mundo faz...

—Explica direito! Está achando que eu sei ler pensamento? Fala de uma vez como é que você come esse diabo de lagarto!

—Comendo...A gente come o lagarto...come o rabo do lagarto...É isso.

Charada resolvida, aparentemente. O rabo era comestível, não devia ter veneno. Era suficiente: largou Dio falando sozinho e saiu correndo pro mato mais adentro ainda, rumo a um canto bem cheio de pedra pelo qual havia andado mais cedo. Chegou no local, se pôs a procurar, olhos abertos, não ia deixar passar nada, ao menos nada do que realmente quisesse. Espantou uns tantos besouros e aranhas, ignorou as lesmas, mas nem aos ratos deu atenção. Foi achando os lagartos, já meio sonolentos enfurnados nas pedras no fim do dia. Examinou um a um: vermelho, não era, azul, nem pensar, amarelo e roxo, de jeito nenhum, branco, não, preto, não, verde, não, listado, não, com bolinhas, não.

Já estava quase tudo escuro quando finalmente achou, gloriosa, deitada folgadamente em cima de um toco de árvore a criatura: um lagartão bonito, brilhante, num tom de rosa pêssego misturado com prateado, tão lindo quanto um vestido de madrinha de casamento. E gordo: sobretudo o rabo, quase uma torinha grossa, carnuda, comprida, se desenrolando vadiamente por quase meio metro. Não teve dúvidas: agarrou o bicho, esfolou-o ali mesmo e com uma maestria de fazer inveja no melhor açougueiro, de um golpe tirou-lhe o rabo. Sem dar maiores pensamentos a fazer um cozido ou um refogado, deixou a fome falar mais alto e simplesmente caiu de boca no filezão de rabo de lagarto, cru e sem temperos, aplacando enfim dias e dias de quase jejum absoluto.

E...passou mal.

Ah como passou mal. Nem cinco minutos após a primeira mordida já via tudo dobrado, sentia a barriga arder em chamas, a cabeça girar. Mal se aguentando nas pernas correu pra detrás de uma moita em agonia, se desfazendo das latas do uniforme antes mesmo de chegar. Sentia-se apunhalado cem vezes por dentro, atropelado por um trem-bala, o peso assassino nas tripas ia pedindo pra sair sem dar escolha. Bem dizer virou do avesso, entornou-se de tudo quanto foi jeito, perdeu a conta de quantas vezes vomitou, de quantas vezes agachou-se em cólicas, de quantas vezes pôs coisas pra fora. Ficou assim a noite inteira: lá pelas tantas cansado, desidratado e zonzo desmoronou no pé de uma árvore próxima, calças nos tornozelos, olhos encovados, cara pálida de quem parecia estar morrendo.

Acordou no finzinho da madrugada, sentia-se gelado, fraco. Ainda cheio de dor fez um esforço em se por de pé, ajeitou um tanto as roupas, o mínimo para não ficar indecente. Tentou arrastar-se de volta ao acampamento, foi trocando passos, mal conseguia andar. Pensou na marcha forçada de mais tarde, não sabia como ele mesmo iria conseguir acompanhar o pelotão. Lembrou do jantar de mais cedo: em estado normal ia querer enforcar Dio, fatiá-lo com a unha, cuidar para que sangrasse até morrer, remetê-lo sem escalas para a execução, culpado de tentar envenenar um superior. Mas estava tão doente, tão enfraquecido, que nem raiva direito sentia: no máximo uma tristeza murcha, frustrada, pensando "Mas afinal, escolhi tanto o lagarto, então não era? Como pode??"

Assim foi, cambaleando, agarrado em galhos de árvore para não cair, ora ainda com a cabeça aos giros, ora com a barrigada aos pinotes. Milico de elite que era, conseguiu se orientar: mesmo doente, achou no céu o rumo e se dirigiu ao acampamento, precisava estar lá que fosse para passar o comando para alguém mais em condições. E assim que divisou os colchonetes, barracas e os restos da fogueirinha que os soldados acendiam todas as noites, divisou também uma cena inusitada:

Uma fila.

Soldados e oficiais do pelotão estavam lá, alinhados ordeiramente uns atrás dos outros, esperando. Alguns nitidamente ansiosos, outros animados, vários carregavam umas poucas caças mirradas, parcas frutinhas e bolotas, uns contavam restos de dinheiro, outros levavam algumas bobagenzinhas como pedaço de sabão, pente, espelho, pasta de dentes, flores, pedras brilhosas. E a fila ia longe: atravessava o lugar de fora a fora, dobrando atrás do saco de dormir do comandante, passando pela fogueira apagada, se embrenhando atrás de umas árvores e finalmente desembocando em uma das poucas tendas mais distantes do ajuntado, uma fraca luzinha de lamparina acesa marcando o destino. Misterioso pra dizer o mínimo.

—Que é que é vocês estão fazendo?

A pergunta, mesmo na voz debilitada que Milo tinha na hora, ainda fez um efeito sensacional: todos os presentes da fila dando um salto apavorado, em quase perfeita sincronia e logo a seguir disparando na corrida, em pânico, para o lado que o nariz apontava. Ficaram pelo chão as caças e frutas, moedas, buquês, testemunhas mudas do desespero da tropa ao ouvir a indagação do chefe sempre bravo. Junto dos objetos, caído no atropelo desesperado, o pobre Dio de Mosca que havia conversado com Milo ainda mais cedo: o informante errado de cardápios e responsável por todo aquele piriri.

Sim, queria matá-lo, e queria que fosse com dor, muita dor. Mas, tão arruinado estava que o máximo que fez foi crispar a testa, estufar o peito como pôde e erguer o dedo. Para nada, apenas buscando atenção:

—Dio, acho que a gente precisa conversar. O que você fez não se faz...

Dio travou mudo e gelado, cheio de pavor; tal e qual uma vítima de ataque de fera tentava se fazer de morto para não morrer de verdade. Preocupação desnecessária: o Cavaleiro de Ouro não estava para briga.

—Mas fica para depois...para quando a gente sair daqui, vou me lembrar dessa sua brincadeira, não agora, depois...Agora só me diz uma coisa: que fila era essa?

Olhou Dio fixamente, lá das profundezas das olheiras macilentas esperava resposta. O Cavaleiro de Mosca, ainda travado empurrou para fora um mero cacho de palavras quase desconexas, dito em voz sumidiça.

—Lagarto...Viemos por causa...

Agastado, o Cavaleiro de Escorpião se pôs mais em pé, a irritação lhe dando um resto de cores no rosto e forças para esbravejar:

—Lagarto?! E você insiste nessa coisa?! Eu devia era rasgar suas tripas, seu cara-de-pau! Agora fala a verdade!!

—M-mas é verdade, Comandante!—e Dio se desesperava—Essa fila aqui é...ou era...era a fila do lagarto!

—Pra comer lagarto, você diz?! Comer lagarto prata e pêssego, não é?! Comer rabo de lagarto gostoso lá naquela barraca?!

—Isso mesmo...

Foi a gota d'água. Milo não disse mais nada, apenas plantou um safanão em Dio, o jogando para bem longe de sua frente. Enfurecido, marchou pisando duro apesar do desarranjo incapacitante até a tenda com a lamparina. Sem cerimônias, arrancou as lonas num puxão seco.

E deu de cara com a singular pessoa loira cercada de frutinhas, caça, bugigangas. Evidentemente melhor nutrida que o resto da tropa, vestia só as botas e luvas do traje de combate, o resto indo à descoberto tal e qual veio ao mundo. A figura estava bastante surpresa: atrapalhada, tentou esconder as vistosas carnes rosa-pêssego com uma mochila de campanha meio vazia, que mal lhe cobria as ancas opulentas.

Ao mesmo tempo em que com a outra mão improvisava uma muito trêmula saudação militar:

—Cavaleiro de PRATA Misty de LAGARTO! Às suas ordens, senhor!

...and that's all, folks! Lembrem-se destas sábias palavras antes da hora do jantar!